Divagações

Dizem que indiferença é o pior sentimento que se pode receber de alguém. Em seguida, pena. Fiquei pensando nisso nos últimos dias e cheguei a conclusão de que eu particularmente discordo dessa ideia ridícula que tem sido criada. O pior sentimento que se pode colher de uma relação é estar só. É ver que aquela gente que você tem do seu lado não pode ser chamada de amigo. É se sentir num ninho de cobra. É estar bem e ver várias pessoas desfrutando da sua energia… Pra quando elas acabarem de sugar tudo, abandonarem você. Urubus esperando seu corpo virar carniça. É como ouvi dizer uma vez: do topo do mundo pro fundo do precipício leva apenas um passo. Você se sente cercado de pessoas que dia pós dia te direcionam ao fundo do precipício. Eu olho ao meu redor e percebo que nunca na vida estive tão sozinha, tão por minha conta. Os amigos de verdade que antes eu contava nos dedos das mãos (mas ao menos contava), hoje não conto mais. Não que tenham deixado seus postos, mas estão distantes, ou física ou psicologicamente. Eu sinto falta de poder confiar em alguém. Sinto falta de querer sair e poder ligar pra pessoa sem ter que me importar com o que ela vai pensar de mim se eu fizer isso. Sinto falta de não ter a mínima necessidade de sair de casa. Aquela época boa em que o final de semana se resumia em brigadeiro, esconde-esconde, filmes e acampamentos. Ou quando eu saia com os meus pais e pensava “nossa, hoje foi muito legal”. A gente cresce e aprende a valorizar a vida de um modo tão fútil, que eu quase me nego a mencionar a palavra “valorizar” nessa frase. O ser humano tende a se desvalorizar conforme envelhece. E tudo o que eu vejo é a minha vida num constante processo de regressão.”

Giovanna Fernandes